Entenda o que é a Psicose
Frequentemente os distúrbios da mente aparecem como tema de produções hollywoodianas. Porém, apesar de ser possível ter uma boa ideia do que se trata o transtorno a partir do filme ou da série, nem sempre os quadros são retratados com total fidelidade, principalmente quando é ilustrado um caso de psicose. No filme Psycho (traduzido como Psicose no Brasil) do diretor britânico Alfred Hitchcock, por exemplo, o desenvolvimento da personalidade múltipla, sintoma característico do transtorno dissociativo de identidade, é diretamente ligado aos comportamentos de serial killer do protagonista Norman Bates. Além disso, outros traços psicóticos, como alucinações e delírios, também são relacionados ao personagem.
Contudo, tais associações podem ser equivocadas. O nome original do longa de Hitchcock, Psycho, na verdade, deveria ter sido traduzido como Psicopata, fazendo menção a alguém com um quadro de psicopatia, o qual possui sintomas diferentes das psicoses. Ainda assim, nem todos os psicopatas apresentam pensamentos assassinos, o que ressalta a importância de colocar cada distúrbio em seu devido lugar. A seguir, confira as características dos principais casos de psicose.
Perder o contato com a realidade e a capacidade de discernir aquilo que é verdadeiro do que é criado em sua mente é o principal sintoma e dificuldade de quem convive com a psicose.
Esse distúrbio mental afeta diretamente o sistema nervoso e, embora possa acometer indivíduos de quaisquer faixas etárias, é mais comum entre os jovens. Segundo estudo realizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), cerca de 60% dos indivíduos da cidade de São Paulo diagnosticados com psicose têm menos de 35 anos.
Quais são os tipos de psicose?
A psicose apresenta sintomas característicos e engloba diferentes transtornos psicóticos. Portanto, existem vários tipos de psicose, como você verá a seguir.
Esquizofrenia
A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica em que há rompimento de contato com a realidade, comportamento social atípico e ideias delirantes. Sua incidência é maior entre pacientes de 15 a 35 anos.
Transtorno bipolar
É um distúrbio mental caracterizado por oscilações de humor que vão de depressão à euforia e obsessão. Pode causar perda de noção do real, comportamentos agressivos e dificuldade de se relacionar socialmente devido a essas alterações.
Transtorno psicótico induzido por substância
Naqueles com início súbito, os sintomas podem se desenvolver de maneira abrupta e intensa, muitas vezes sem um padrão previsível. A pessoa pode passar de um estado aparentemente estável para um quadro psicótico agudo em um curto período.
Todo aquele decorrente de dependência química, de drogas lícitas ou ilícitas, ou de contato com qualquer uma delas capaz de desencadear uma psicose. Pode ser fruto do uso de:
- álcool;
- cafeína;
- anfetaminas;
- esteroides;
- estimulantes;
- cigarro;
- cocaína;
- maconha;
- LSD.
Transtorno delirante
É um transtorno mental que se diferencia da esquizofrenia por não ter outros sintomas comuns a ela, além de crenças delirantes que perduram. Também conhecido como paranoia. Nele, há alteração do pensamento em seu conteúdo.
Transtorno psicótico breve
A principal característica distintiva desse transtorno é a sua brevidade, com os sintomas durando menos de um mês. Apesar da sua natureza temporária, esses episódios podem ser intensos e perturbadores, impactando significativamente a vida cotidiana da pessoa acometida.
Tipos e causas
Apesar das inúmeras particularidades que os indivíduos psicóticos apresentam, esse quadro pode ser dividido em três grandes grupos de causa:
- Causada por uma condição mental ou psicológica: segundo o psiquiatra Claudio Duarte, condições médicas diversas e eventualmente lesões, traumas, tumores ou infecções no sistema nervoso central podem, desencadear
ou produzir um transtorno psicótico. Além disso, transtornos mentais como esquizofrenia e bipolaridade são alguns outros elementos responsáveis por quadros psicóticos. - Causada pelo abuso de drogas e álcool: Claudio explica que substâncias psicoativas como ketamina (um anestésico), cocaína ou maconha aumentam o risco de desenvolver a psicose aguda em curto e longo prazo.
- Causada por uma norma sanitária geral: “Indivíduos que sofreram mais eventos negativos durante a vida, têm condições de habitação precárias, são mais isolados de forma étnica e têm pouco apoio de grupos
ou de seus pares estão em maior risco de desenvolver um transtorno psicótico”, afirma o especialista.
Contudo, os fatores para o despertar de um transtorno psicótico são ainda mais amplos. Duarte explica que a psicose é mais provável de ocorrer em pessoas que têm uma saúde médica pobre ou que sofrem de outra
doença mental. “Os neurotransmissores (produtos químicos envolvidos na comunicação entre células nervosas) também estão envolvidos no desenvolvimento de distúrbios psicóticos. A lista de neurotransmissores
sob investigação é longa, mas uma atenção especial foi dada à dopamina, serotonina e glutamato”, conclui o psiquiatra.
Além de todos esses fatores, os filhos de mães com transtorno psicótico também podem ter um maior risco genético de desenvolver a doença se a gravidez apresentar problemas como desnutrição, infecções, hipertensão arterial ou problemas com a placenta.
Em busca da cura
Uma boa notícia sobre o estado psicótico é que ele pode ser controlado e prevenido para que outros indivíduos não o desenvolvam. Até agora, os tratamentos mais eficazes para as psicoses envolvem a utilização de medicamentos adequados, educação em saúde mental e psicoterapia para o portador do quadro e seus familiares. “A maioria dos distúrbios psicóticos é tratada com uma combinação de medicamentos e psicoterapia, bem como outros tipos de abordagem, como terapia ocupacional,terapia de grupo, grupos operativos e de aconselhamentos”, explica
Claudio Duarte.
Os medicamentos são um dos maiores auxiliares no tratamento das psicoses. O principal tipo de droga prescrita para tratar esses quadros são os “antipsicóticos” ou neurolépticos. E embora muitas vezes esses remédios não curem completa e definitivamente, eles são eficazes no controle dos sintomas mais problemáticos dos transtornos psicóticos, como delírios, alucinações e problemas de pensamento. “Estes são chamados de sintomas positivos, em oposição aos chamados sintomas negativos, que seriam a redução da afetividade, da cognição e do funcionamento social; são igualmente abordáveis com algumas medicações, mas muito mais sensíveis aos manejos das demais terapias”, esclarece o psiquiatra Claudio Duarte.